UMA SEMANA VIVIDA NO
ENGATINHAR DA CIDADE
Na segunda-feira canta
o galo matinando.
Novo vilarejo acorda na
floresta.
Muitas árvores de pé,
poucos ranchos.
Tudo falta no povoado,
porém, há braços fortes
de sua gente.
– Levanta-te pioneiro
para o batente!
É a Jales que não pode
esperar;
derruba mata e abre
caminhos.
Mudas e sementes para o
plantio,
Cobertura de sapé prá
tua morada.
– Cuida do ideal e de
teu corpo
café com rapadura e
mandioca,
tua primeira sustância
matinal.
Biscoito de polvilho,
nem pensar
falta forno à lenha e
falta tempo.
E o dia quente já
amanheceu,
o Sol descola-se do
horizonte.
De pé com as
ferramentas:
– Segue em frente,
bandeirante,
a vila Jales fará por merecer.
Enxadão e machado nas
mãos de uns,
outros atrelando bois
de carro;
juntas de mulas arreadas prontas
arrastam toras pelas
veredas.
Acolá, esteios de
aroeira se alevantam.
Mais um mudanceiro que
chega,
sangue novo no roçado,
seu teto doméstico é
uma árvore,
para a família é tudo
espanto.
Porém, o momento é de
unir forças.
Aventurando-se por
melhores vidas,
Cavaleiros e carreiros
de botinas sujas
Não temem o fracasso
nem a maleita.
Melancólicos, no peito
trazem saudades
Da família, amigos e
compadres.
E a selva virgem está
assustada
Nesse sertão nunca se
viu semelhante,
Tanta zoeira endoidada
– nuvens poeirentas
Afugentam feras e
passarinhos.
É a civilização
cobrando espaço.
Engenheiro Euphly saca
do bolso
anotações em calhamaços
amarrotados,
indicando rumos de ruas
e praça.
Duquinha, com mestria e
bom jeito,
comanda enérgico a cadência da labuta.
Vejam ranchos e
barracos erguidos.
– Mas cadê o ícone da
fé, minha gente?
De tábua faz o
carpinteiro a capela,
duas toras lavradas em
forma de cruz
que é levantada entre
palmas e vivas.
De ombro a ombro com os
maridos
as meninas sertanejas
são joias do contexto
buscando água da
cisterna distante,
socando arroz no pilão
de madeira,
cozinhando, costurando
e lavando.
– Oia o grupinho de
meninos crescendo!
– Ta carecendo escola,
dotor Ofly.
As providências tão
sendo tomadas,
a cartilha dos
baixinhos está a caminho.
– Já contratei dona
Aurora, professora.
E no passar de uma
semana árdua
chega o entardecer do
domingo afinal,
dia de caçada e repouso
- dia do Louvado.
Murmurando orações ante
o cruzeiro
enquanto de lado profetiza o engenheiro:
“A vila terá futuro, eu
sei,
centro geográfico, ela
já o é.
Em breve distrito será,
a emancipação que não
demora;
depois comarca com toda
certeza.
A ferrovia tá lá em
Mirassol
acenando o
desenvolvimento regional.
Pela Diocese vou
batalhar,
também várias
delegacias virão,
não descarto a saúde
pública”
Imagina hoje tu, leitor
se esse visionário
fundador
visse no auge a Santa
Casa
e a cidade privilegiada
sendo sede
da unidade hospitalar
do Câncer
Voltemos ao cruzeiro do
domingo,
pioneiros em orações
das seis horas.
O Céu escutou aquelas
preces,
deu a Jales graça e
prosperidade.
Vai o dia entardecendo
– Ave Maria.
(Genésio Mendes Seixas)
Jales-SP
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